Missão abortada
Como um bug
de software destruiu um telescópio espacial
Redação
do Site Inovação Tecnológica - 02/05/2016
Um bug
de software fez o telescópio espacial Hitomi se despedaçar no espaço. A ciência
que ele faria terá que esperar mais de uma década para ser
retomada.[Imagem: Akihiro Ikeshita/JAXA]
Perda astronômica
A Agência de Exploração
Aeroespacial do Japão (JAXA) declarou definitivamente perdido o telescópio
espacial Hitomi, também conhecido como Astro-H.
O observatório, que custou US$
286 milhões e foi lançado em Fevereiro deste ano, tinha como objetivo estudar o "Universo extremo",
o que inclui corpos celestes muito grandes, como aglomerados de galáxias, e eventos
cósmicos de alta energia, genericamente conhecidos como buracos negros.
Pelo menos 10 peças, incluindo os
dois painéis solares que geravam energia para o Hitomi, se quebraram do corpo
principal do observatório, eliminando qualquer chance de sua recuperação.
Bug caro
O incidente, que a princípio parecia ter sido causado por lixo
espacial, na verdade foi causado por uma sucessão de eventos, sendo
a principal causa um erro no software de controle, agravado pela transmissão de
um comando que nunca havia sido testado - e também continha um erro.
Tudo começou por influência de um
fenômeno natural chamado Anomalia Magnética do Atlântico Sul,
cujos efeitos são conhecidos e já eram esperados. Nessa região, os cinturões de
radiação que envolvem a Terra mergulham na atmosfera, expondo os satélites
artificiais a doses extras de partículas energéticas.
Ao fazer uma manobra
pré-programada para mudar o ponto de observação da Nebulosa do Caranguejo para
a galáxia Markarian 205, a radiação extra fez o programa de controle concluir
que o telescópio estaria girando mais rápido do que o necessário. Além disso, o
Hitomi deixou de usar seu sistema de posicionamento baseado no rastreamento de
estrelas e mudou para o sistema de giroscópios. E esses giroscópios estavam
relatando erroneamente - provavelmente também pelo excesso de radiação - que o
observatório estava girando a uma velocidade de cerca de 20 graus a cada hora.
Pequenos motores conhecidos como rodas de reação começaram então a girar para
neutralizar o excesso de rotação - que não existia - só que o bug no software
os fez girar no sentido errado, acelerando o telescópio ainda mais.
Embora o observatório tenha sido
projetado para mudar automaticamente para o modo de segurança em uma situação
desse tipo, um comando que havia sido transmitido previamente, sem ter sido
testado, ajudou a piorar a situação da rotação. E tudo isso aconteceu quando o
Hitomi estava do outro lado da Terra em relação ao Japão, o que impediu que os
técnicos da missão interviessem em tempo real. Girando cada vez mais rápido
conforme o programa tentava consertar o que não estava errado, o observatório
se despedaçou no espaço.
Trinta anos perdidos
A JAXA afirma que irá revisar
toda a concepção, fabricação, operações e verificação do observatório e dos
seus sistemas de software, mas não terá como lançar um substituto por pelo
menos 12 anos.
O maior pesar da equipe se deve à
perda de um calorímetro de raios X que vem sendo desenvolvido há mais de 30
anos e que faria observações sem precedentes, sobretudo sobre a matéria escura.
É a terceira vez que esse instrumento é perdido. Ele estava instalado no
observatório Astro-E, que foi perdido no lançamento em 2000, e também no
telescópio Suzaku, no qual deixou de funcionar por um vazamento de hélio, em
2005.
Segundo o professor Dan McCammon,
da Universidade de Wisconsin-Madison, nos EUA, principal projetista do
aparelho, será necessário agora obter cerca de US$50 milhões adicionais da NASA
para construir um novo aparelho. Com o dinheiro em mãos, a construção levaria
entre 3 e 5 anos. A construção de uma versão do aparelho já está agendada para
ser incluída no observatório Athena, da ESA (Agência Espacial Europeia), mas a
missão não deverá ir ao espaço antes de 2028.
Apesar da perda, a JAXA anunciou
que houve tempo suficiente para que o Hitomi fizesse algumas observações
científicas, o que deverá ser anunciado nos próximos meses em artigos
submetidos a revistas especializadas, devendo trazer novas informações sobre os
aglomerados de galáxias e a matéria escura que os permeia.
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