É possivel, somos um país em apartheid
ONG
alerta para possíveis casos de discriminação nos Jogos Olímpicos
- 28/02/2016 16h13
- Brasília
Patrícia
Serrão - Do Portal EBC
A organização não governamental
Fare Network fez durante este mês uma campanha global para chamar a atenção
para a homofobia no futebol. O Football v Homophobia é uma iniciativa, que
desde 2010, busca promover ações positivas contra a discriminação com base na
identidade de gênero no esporte. Em 2016, cerca de 20 grupos europeus, entre
clubes, ligas e organizaçõe não governamentais, aderiram à campanha e
organizaram atividades relacionadas à luta contra a homofobia em diversos
países europeus.
Terminado o mês de fevereiro, a
preocupação da organização é com a Olimpíada no Brasil. A ONG acompanhou de
perto a Copa do Mundo de 2014 no Rio de Janeiro e produziu um relatório, que apontou 14
incidentes. E já entrou em contato com a organização Rio 2016 se oferecendo
para acompanhar de perto os Jogos Olímpicos.
Em entrevista ao Portal EBC,
a assessoria da Fare Network explica sua preocupação: “Uma sociedade
multiétnica como a do Brasil não é geralmente associada a questões de
discriminação, mas esta ideia contrasta com uma realidade de uma população
racialmente diversificada, mas economicamente estratificada em que o racismo é
muito presente. Em 2013, a ONU [Organização das Nações Unidas] disse que o
racismo no Brasil permanece institucionalizado e injustiças históricas
continuam a afetar profundamente a vida de milhões de brasileiros".
A antropóloga brasileira Ana
Paula Silva, autora do livro Pelé e o complexo de vira-latas: discursos
sobre raça e modernidade no Brasil, explica que a discriminação não é
específica do contexto brasileiro, mas de uma visão de esporte.
“O esporte, que acaba sendo
identificado com a nação, não comporta a diversidade. A noção de que a
construção da nação é uma representação viril e eugênica passa também para as
modalidades que são identificadas como a nação. Dentro desse contexto, pode-se
explicar o porquê de tantos incidentes de esportes que representam nações em
relação ao racismo, misoginia e homofobia. Nessa visão de que existe uma
'guerra' em campo, as armas utilizadas, geralmente, pelas torcidas, são as ofensas
racistas, homofóbicas, xenófobas”, disse.
A Fare Networking também faz um
alerta específico em relação a casos de homofobia no país. “Em relação a
homofobia, a percepção geral é que o Brasil é um país gay-friendly, mas a
realidade é que a violência homofóbica está aumentando. Em 2014, de acordo com
grupos de direitos LGBT no Brasil, o ritmo de assassinato de homossexuais e
transexuais estava perto de um por dia. Incidentes homofóbicos foram
testemunhados nos estádios de futebol durante e depois da Copa do Mundo de 2014
e tem havido pouca resposta a eles. Cantos sexistas e homofóbicos, como
'bicha', 'viado' ou 'mulherzinha' continuam a ser muito comuns”.
Já a antropóloga Ana Paula
acredita que é preciso muito mais trabalho para mudar o contexto atual. “Não
sei se campanhas como abertura de faixas contra a homofobia ou racismo
melhorariam a situação. O que talvez minimizasse esses problemas seria a
desconstrução dos esportes nacionais. Nesse sentido, as categorias cor/raça,
sexualidade, gênero, classe, entre outras, são combustíveis que quando
acionadas transformam-se em xingamentos, particularmente da torcida
adversária”, explica.
Para ela,“essas questões tem elos
mais profundos e que só mudando a perspectiva dos esportes pode ser que alguma
coisa mude a longo prazo. Resta saber se os grandes investidores dos
megaeventos esportivos estão, de fato, interessados nessas mudanças”.
A Fare Networking afirma que, até
por ser uma organização europeia, ainda não recebeu denúncias brasileiras. Mas
que compila mensalmente incidentes no futebol pelo mundo, inclusive os ocorrido
no Brasil, que são noticiados em redes sociais e pela mídia. A organização
informa que caso alguém presencie algum incidente pode denunciar pelo site da entidade. A ONG
informou que está implementando um projeto mundial com a Federação
Internacional de Futebol (Fifa) para observar práticas discriminatórias nas
eliminatórias para o Mundial de 2018.
Edição: Gésio
Passos
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