Perseguições
A luta de um
marfinense pelos direitos dos homossexuais em África
Só
uma dezena de países africanos assinou a convenção das Nações Unidas de 2011
que condena a discriminação contra as minorias sexuais. A homofobia persiste no
continente, mas também há casos positivos.
Stéphane Djedje é cristão e é
homossexual. Diz que no seu país natal, a Costa do Marfim, ia à igreja
"oito dias" por semana. Durante 16 anos pediu perdão por ser quem
era, chorou e rezou para mudar. Hoje estuda Direito no Reino Unido. Antes
também estudou Teologia no país e foi vítima de discriminação:
"Durante a aula levantei o braço
e disse que não faz mal ser gay. Como cristão, acredito que Deus ama toda a
gente", conta.
Mas o seu ato teve consequências.
Stéphane foi chamado a uma reunião com o diretor, nigeriano, e o seu assistente
sul-africano. Nessa altura, perguntaram-lhe se era homossexual. O marfinense
não se coibiu e disse que sim. "Então, eles responderam: se não quer ajuda
terá de sair da escola". Foi isso mesmo que Stéphane fez.
"Terá de me aceitar como sou"
Sem um estabelecimento de ensino, o
marfinense não podia validar o seu visto de estudante no Reino Unido. Encontrou
outra universidade.
Quando se reuniu com o diretor disse
que era homossexual - "terá de me aceitar ou rejeitar como sou",
disse na ocasião. O diretor respondeu que podia ficar. Ainda assim, Stéphane
continuou a encontrar dificuldades.
"Eu era o único negro, o único
gay, e toda a gente sabia e comentava. Foi esgotante, eu acordava de manhã e
não queria ir para as aulas", lembra. "O ódio era tão grande que eu
realmente olhava para o espelho e queria mudar, mas era impossível. Mas
consegui acabar o meu curso", diz hoje, orgulhoso.
África e a Europa
Agora, o seu movimento, House of
Rainbow, dita que é possível ser-se gay e cristão. O movimento trabalha na
Nigéria, Lesoto, Burundi, Malawi, Costa do Marfim, e também no Reino Unido,
França, Holanda - e Alemanha, onde Stéphane quer viver. Ele gosta do sentimento
de liberdade da comunidade gay alemã e compara o progresso entre África e a
Europa:
"Na verdade são iguais, mas não
estão ao mesmo nível histórico. O que África está a sofrer agora foi o que a
Alemanha viveu há muitos anos. Somos pouco pacientes em África porque, com a
velocidade atual da informação, vemos que os homossexuais já podem casar e ser quem
são", refere.
Nem tudo é negativo
Hoje em dia, há 36 países africanos
onde a homossexualidade ainda é considerada ilegal. No Zimbabué, por exemplo, o
novo projeto constitucional proíbe o casamento entre pessoas do mesmo sexo. O
Presidente zimbabueano, Robert Mugabe, tem-se oposto fortemente aos direitos
dos homossexuais.
Mas cada país africano é diferente,
ressalva Marc Epprecht, professor canadiano de estudos de desenvolvimento.
Moçambique e Cabo Verde estão na linha da frente no que se refere a este tema,
explica.
"Muitos moçambicanos emigraram
para a África do Sul, e durante mais de 100 anos houve relações entre pessoas
do mesmo sexo. Havia um conhecimento de que isto acontecia. Penso que as
ex-colónias portuguesas eram mais honestas do que outros países
africanos".
Segundo o especialista, ambos os
países servem hoje como um modelo alternativo ao que Epprecht chama de
"predadores hipócritas do ocidente que dizem para fazer isto ou
aquilo".
Autora: Débora Miranda (Londres)
Edição: Guilherme Correia da Silva / Helena Ferro de Gouveia
Edição: Guilherme Correia da Silva / Helena Ferro de Gouveia
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